Nossa seção "Bate papo no sótão" está de volta e hoje temos a alegria de conversar com o escritor Leo Cunha. Com mais de 40 livros infantis e juvenis publicados, além de crônicas e traduções, Leo vem compartilhar conosco um pouco de sua trajetória e seu olhar sobre as práticas de incentivo à leitura.
Vale a pena conferir!
1.Quando era criança você gostava de ler? Lembra-se de algum livro que leu na infância ou de algum que te marcou em especial?
Aprendi a ler muito cedo, com 4 anos, e sempre fui um leitor voraz de livros, quadrinhos, jornais e revistas. Muitos livros me marcaram, como toda a série do Sítio do Picapau Amarelo (principalmente A chave do tamanho e Memórias de Emília) e a série da Turma do Gordo (principalmente O Gênio do Crime, O caneco de prata e Berenive Detetive)
2.Quando decidiu ser autor de livros infantis? A escola contribuiu de alguma forma para esta escolha?
Não me lembro de um dia ou época específica em que eu teria tomado essa decisão. Cresci rodeado de livros infantis e juvenis, na livraria da minha mãe (Casa de Leitura e Livraria Miguilim, inaugurada na década de 70), aonde eu ia vários dias por semana para ler, fazer cursos e oficinas, conhecer escritores e leitores. Esse mundo da literatura infantil sempre me pareceu muito bacana, e a grande maioria dos escritores eram muito simpáticos, divertidos, fascinantes. Conheci muitos deles, ainda na infância, e na adolescência.
Mas só na época da faculdade, dez anos depois, eu comecei a escrever pra valer. E aí a literatura infantil me pareceu um caminho muito rico, promissor e quase inevitável.
3.Como surgiu a ideia para seu primeiro livro? Qual foi ele?
Meu primeiro livro lançado foi o Pela estrada afora (Atual Editora), mas antes dele eu já tinha escrito outros dois, que foram lançados posteriormente: O sabiá e a girafa (atualmente na editora FTD) e O menino que não mascava chiclê (editora Paulinas).
O sabiá e a girafa, nasceu de uma cena que eu vi no zoológico (um menino se assustou quando viu um passarinho voando em direção à cabeça de uma girafa), mesclado com alguns exercícios de linguagem (remexi em alguns ditados, adivinhas, trocadilhos e travalínguas que meu avô costumava me contar).
4.Como você busca inspiração para escrever?
A ideia para um livro pode nascer de várias formas. Pode sair de uma cena ou uma conversa que presenciei (vide o exemplo citado acima, mas também em Castelos, princesas e babás, Dedé e os Tubarões, Uma aventura no sonho), pode nascer de memórias (como no caso de As pilhas fracas do tempo, A menina da varanda, Na marca do pênalti, Ninguém me entende nessa casa, Manual de desculpas esfarrapadas), ou pode ainda nascer da pura brincadeira com as palavras e os sentidos (como no caso da maioria dos poemas e das narrativas Arca de Noé: uma história de amor – que nasce do jogo entre "arca" e "arco", "Arca de Noé" e Arco-íris" – e O menino que não mascava chiclê – que surge a partir do jogo entre "chiclê" e "clichê".
5.Ainda nos dias de hoje, cabe à escola grande parte da responsabilidade de aproximar as crianças dos livros de literatura. Como você vê essa relação escola x incentivo à leitura? De que forma a escola pode contribuir para a formação de leitores? Acha que isso tem acontecido de forma satisfatória nas escolas?
Acontece em muitas escolas, tanto públicas quanto particulares, mas não acontece em outras. Depende de uma série de fatores: o perfil dos professores, os projetos das secretarias de cultura, o entrosamento com a comunidade etc.
Já vi exemplos arrebatadores e outros deprimentes, em todos os cantos do país, e em escolas de todos os tipos de tamanho e condição financeira.
6.Como você considera um bom livro de literatura infantil?
Considero que o bom livro é aquele que encanta a criança, que a tira do lugar, seja pelo humor, seja pela emoção, seja pelo exercício com a linguagem e/ou a imaginação.
7.Atualmente o Brasil conta com vários projetos e ações voluntárias de incentivo à leitura, em caráter físico e/ou virtual (o blog Passarinhos no sótão é um deles), que oferecem dicas de livros de literatura, promovem o acesso aos livros através de bibliotecas livres e mesmo assim as pesquisas destacam que o brasileiro não lê. O que pensa a respeito? Na sua opinião, o que falta para uma nação efetivamente leitora?
Falta muita coisa. Falta dinheiro (e vontade política) para formar mais e melhores professores, bibliotecários, mediadores de várias naturezas. Falta tempo e dinheiro para os pais (não todos, claro) proporcionarem uma vida cultural mais rica e diversificada aos filhos, repleta de arte, música, teatro, dança, cinema e, evidentemente, literatura.
8.Temos também um grande número de professores que não gostam de ler e outros que consideram a leitura literária desnecessária. Que ações podem ser feitas para reverter este quadro visto que um professor que não lê naturalmente não despertará este gosto em seus alunos?
Acho que respondi acima.
9.Deixe um recado para as crianças sobre a importância da leitura.
Não gosto muito de conselhos, então prefiro deixar a minha experiência. Na minha vivência, a leitura (principalmente de livros literários, mas também de quadrinhos, filmes, música, teatro) me fez uma pessoa mais feliz, mais curiosa, mais capaz de perceber o que está por trás do que se diz e do que se escreve. É o que tento passar para os meus filhos.