25 de junho de 2016

Bate papo com o Leo Cunha

Nossa seção "Bate papo no sótão" está de volta e hoje temos a alegria de conversar com o escritor Leo Cunha. Com mais de 40 livros infantis e juvenis publicados, além de crônicas e traduções, Leo vem compartilhar conosco um pouco de sua trajetória e seu olhar sobre as práticas de incentivo à leitura.
Vale a pena conferir!

1.Quando era criança você gostava de ler? Lembra-se de algum livro que leu na infância ou de algum que te marcou em especial?
Aprendi a ler muito cedo, com 4 anos, e sempre fui um leitor voraz de livros, quadrinhos, jornais e revistas. Muitos livros me marcaram, como toda a série do Sítio do Picapau Amarelo (principalmente A chave do tamanho e Memórias de Emília) e a série da Turma do Gordo (principalmente O Gênio do Crime, O caneco de prata e Berenive Detetive)

2.Quando decidiu ser autor de livros infantis? A escola contribuiu de alguma forma para esta escolha?
Não me lembro de um dia ou época específica em que eu teria tomado essa decisão. Cresci rodeado de livros infantis e juvenis, na livraria da minha mãe (Casa de Leitura e Livraria Miguilim, inaugurada na década de 70), aonde eu ia vários dias por semana para ler, fazer cursos e oficinas, conhecer escritores e leitores. Esse mundo da literatura infantil sempre me pareceu muito bacana, e a grande maioria dos escritores eram muito simpáticos, divertidos, fascinantes. Conheci muitos deles, ainda na infância, e na adolescência.
Mas só na época da faculdade, dez anos depois, eu comecei a escrever pra valer. E aí a literatura infantil me pareceu um caminho muito rico, promissor e quase inevitável.

3.Como surgiu a ideia para seu primeiro livro? Qual foi ele?
Meu primeiro livro lançado foi o Pela estrada afora (Atual Editora), mas antes dele eu já tinha escrito outros dois, que foram lançados posteriormente: O sabiá e a girafa (atualmente na editora FTD) e O menino que não mascava chiclê (editora Paulinas).
O sabiá e a girafa, nasceu de uma cena que eu vi no zoológico (um menino se assustou quando viu um passarinho voando em direção à cabeça de uma girafa), mesclado com alguns exercícios de linguagem (remexi em alguns ditados, adivinhas, trocadilhos e travalínguas que meu avô costumava me contar).

4.Como você busca inspiração para escrever?
A ideia para um livro pode nascer de várias formas. Pode sair de uma cena ou uma conversa que presenciei (vide o exemplo citado acima, mas também em Castelos, princesas e babás, Dedé e os Tubarões, Uma aventura no sonho), pode nascer de memórias (como no caso de As pilhas fracas do tempo, A menina da varanda, Na marca do pênalti, Ninguém me entende nessa casa, Manual de desculpas esfarrapadas), ou pode ainda nascer da pura brincadeira com as palavras e os sentidos (como no caso da maioria dos poemas e das narrativas Arca de Noé: uma história de amor – que nasce do jogo entre "arca" e "arco", "Arca de Noé" e Arco-íris" – e O menino que não mascava chiclê – que surge a partir do jogo entre "chiclê" e "clichê".

5.Ainda nos dias de hoje, cabe à escola grande parte da responsabilidade de aproximar as crianças dos livros de literatura. Como você vê essa relação escola x incentivo à leitura? De que forma a escola pode contribuir para a formação de leitores? Acha que isso tem acontecido de forma satisfatória nas escolas?
Acontece em muitas escolas, tanto públicas quanto particulares, mas não acontece em outras. Depende de uma série de fatores: o perfil dos professores, os projetos das secretarias de cultura, o entrosamento com a comunidade etc.
Já vi exemplos arrebatadores e outros deprimentes, em todos os cantos do país, e em escolas de todos os tipos de tamanho e condição financeira.

6.Como você considera um bom livro de literatura infantil?
Considero que o bom livro é aquele que encanta a criança, que a tira do lugar, seja pelo humor, seja pela emoção, seja pelo exercício com a linguagem e/ou a imaginação.

7.Atualmente o Brasil conta com vários projetos e ações voluntárias de incentivo à leitura, em caráter físico e/ou virtual (o blog Passarinhos no sótão é um deles), que oferecem dicas de livros de literatura, promovem o acesso aos livros através de bibliotecas livres e mesmo assim as pesquisas destacam que o brasileiro não lê. O que pensa a respeito? Na sua opinião, o que falta para uma nação efetivamente leitora?
Falta muita coisa. Falta dinheiro (e vontade política) para formar mais e melhores professores, bibliotecários, mediadores de várias naturezas. Falta tempo e dinheiro para os pais (não todos, claro) proporcionarem uma vida cultural mais rica e diversificada aos filhos, repleta de arte, música, teatro, dança, cinema e, evidentemente, literatura.

8.Temos também um grande número de professores que não gostam de ler e outros que consideram a leitura literária desnecessária. Que ações podem ser feitas para reverter este quadro visto que um professor que não lê naturalmente não despertará este gosto em seus alunos?
Acho que respondi acima.

9.Deixe um recado para as crianças sobre a importância da leitura.
Não gosto muito de conselhos, então prefiro deixar a minha experiência. Na minha vivência, a leitura (principalmente de livros literários, mas também de quadrinhos, filmes, música, teatro) me fez uma pessoa mais feliz, mais curiosa, mais capaz de perceber o que está por trás do que se diz e do que se escreve. É o que tento passar para os meus filhos.

23 de maio de 2016

Sobre a vida dos passarinhos pequenos...

Talvez não você não tenha percebido mas os passarinhos pequenos vivem muitas aventuras em seu dia a dia, muito além de cantar, voar, ensinar os filhos a voarem, alimentá-los... Para dar conta destas tarefas é necessário muito cuidado com os predadores e também com os humanos!
A partir da observação da natureza e dos passarinhos numa fazenda em que a autora passa os finais de semana, nasceu essa história que convida os leitores a conhecerem mais sobre os pássaros e voarem com as asas da imaginação!

CAPA
CADA HISTÓRIA INICIA COM UMA ILUSTRAÇÃO BELÍSSIMA
MIOLO DO LIVRO QUE SE DESDOBRA
LIVRO: A perigosa vida dos pássaros pequenos
AUTORA: Miriam Leitão
ILUSTRADOR: Rubens Matuck
EDITORA: Rocco pequenos leitores

12 de fevereiro de 2016

Sete cartas de outro planeta

E se de repente, começassem a aparecer umas cartas "estranhas" em sua casa? E se elas estivessem vindo de outro planeta? ??
É o que vive a protagonista desta história a partir de um dia em que se vê entediada... Todos na sua casa têm algo importante para fazer e parecem não perceber as cartas que chegam. Porém, a menina se dá conta de que nenhuma delas está  endereçada a ela... que estranho!
Sete cartas de outro planeta, de Ana Cristina Melo com ilustrações de Patricia Melo. Editora Bambolê. 

O menino Nito

Outro dia fui à biblioteca pública daqui e entre tantos livros que folheei, este foi especial.
Trata-se da 2ª edição do livro O menino Nito, da autora Sonia Rosa. Este conta com as ilustrações de Cristina Azevedo, que muitas vezes se parecem com fotografias.
Aqui no sótão tenho a 4ª edição que é ilustrada por Victor Tavares, editado pela Pallas Editora.

Nito era muito amado por sua família desde que nasceu. Conforme foi crescendo ele chorava por tudo e isso incomodava seus pais, que achavam que todo aquele choro era pura manha... Até que um dia o pai de Nito o chama num canto e fala bem sério: Homem não chora! Você é macho e não deve ficar por aí chorando à toa!
Desse dia em diante, o menino passou a engolir todos os seus choros.



Ele engoliu tantos choros que aos poucos foi parando de brincar, de correr... Ficou tão pesado que com o tempo nem conseguia levantar da cama. E foi então que seus pais ficaram preocupados, achando que Nito estava doente. Trataram logo de chamar o doutor que após conversar com o menino deu um diagnóstico preciso: Ele só precisa desachorar!


Nito colocou para fora todos os seus choros que tinham sido engolidos!Seus pais ficaram tão sentidos que choraram junto com o menino.


E desde então, todos aprenderam que chorar às vezes faz bem e Nito entendeu que não precisava chorar sem razão.

11 de fevereiro de 2016

Biblioteca livre

Hoje fiz um passeio pela região serrana da minha cidade, Macaé, e conheci uma biblioteca livre organizada por professores e alunos do local, com o intuito de promover o acesso aos livros e à leitura. A proposta é levar um livro e deixar outro, fazer os livros circularem, serem lidos pelo maior número de pessoas...
Sou fã de ações desse tipo e deixei uma pequena contribuição por lá.
Esta biblioteca está situada em Córrego do Ouro, na serra macaense. Vale a pena conhecer e participar!

7 de fevereiro de 2016

Árvore

Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhe ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida no tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas.

2 de fevereiro de 2016

Poesia... alimento para a alma


Eu bem sabia que a nossa visão é um ato
poético do olhar.
Assim aquele dia eu vi a tarde desaberta
as margens do rio.
Como um pássaro desaberto em cima de uma pedra
na beira de um rio.
Depois eu quisera também que a minha palavra
fosse desaberta na margem do rio.
Eu queria mesmo que as minhas palavras
fizessem parte do chão como os lagartos
fazem.
Eu queria que minhas palavras de joelhos
no chão pudessem ouvir as origens da terra.

Menino do mato, Manoel de Barros.

Um pouco de poesia...



Eu queria fazer parte das árvores como os
pássaros fazem.
Eu queria fazer parte do orvalho como as
pedras fazem.
Eu só não queria significar.
Porque significar limita a imaginação.
E com pouca imaginação eu não poderia
fazer parte de uma árvore.
Como os pássaros fazem.
Então a razão me falou: o homem não
pode fazer parte do orvalho como as pedras
fazem.
Porque o homem não se transfigura senão
pelas palavras.
E isso era mesmo.

Menino do mato, Manoel de Barros.

23 de janeiro de 2016

As bibliotecas - por Valter Hugo Mãe

Crônica de Valter Hugo Mãe no Jornal de Letras, 15 a 28 de maio - Via Biblioler

As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem  está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.

Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.

Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se  entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.

O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.

Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.

Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir. Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.

As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.

Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.

Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.

As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.

Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.

Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.

*texto compartilhado do blog Bibliotecas do Brasil